quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A MUDANÇA

Que coisa mais complicada - a mudança. Parodiando Nietzsche, eu diria que a mudança dói ("Crescer dói, descobrir dói, amar dói, se apaixonar dói muito" - Nietzsche). Mas atualmente nada é mais necessário e primordial no cotidiano. Diria até que há alguns anos pensávamos intensamente apenas no nosso concorrente para estarmos preparados e aptos a enfrentarmos as questões/exigências do mercado profissional. Mas, hoje, além do concorrente, temos sempre de estarmos fortemente vinculados à inovação, ou seja,  temos a cada dia de sermos diferentes, mesmo que isso nos tire permanentemente de nossa zona de conforto. Afinal, podemos acordar, fora de tom - fora da realidade, E, aí, às vezes, chegamos tarde e fora de perspectiva. E o que normalmente fazemos? O discurso do velho de antigamente: "Para onde vai o mundo com esses jovens loucos e desorientados?" Quando na verdade, isso é apenas, uma simples e terrível confirmação, que passamos. Que não mudamos a tempo de perceber que o mundo é outro (e podemos ter apenas 20 anos), e, esses jovens (que podem até ter 90 anos), comandam algo que estamos determinantemente despreparados para entender e mesmo conviver.

Por essa e outras razões, sugiro a leitura do texto abaixo, que de certa forma é uma verdadeira “paulada na moleira” na necessidade permanente de mudanças que nos ronda diariamente.

Por que eu tenho que mudar?
“A única coisa permanente é a mudança”, já diz a filosofia budista
Por Roberto Recinella

Temos que mudar simplesmente porque o mundo em que nós nascemos não é mais o mundo em que estamos vivendo. Estes são tempos de transição, instabilidade, renovação, inovação e de pluralidade.

Ao folhar uma revista, um jornal ou mesmo assistir televisão, nos deparamos diariamente com matérias ligadas direta ou indiretamente à mudança. Mais da metade dos livros de gestão, que foram publicados nos últimos três anos, têm a mudança inserida em seu título ou no subtítulo. Também não faltam seminários, palestras, cursos, encontros de marketing, de Administração ou de RH sem que o tema mudança não seja tratado.

Em qualquer empresa, instituição ou mesmo na vida pessoal alguma coisa mudou, está mudando ou precisa mudar. As coisas mudam, as competências exigidas mudam, o ambiente externo torna-se menos favorável, você fica mais complacente e se acomoda. Rivais inesperados, tão ambiciosos quanto você já foi um dia, encontram um modo de alterar as regras e destruir criativamente as coisas que você fez para permanecer eternamente no mercado. Se quiser permanecer na onda de sucesso, você precisa mudar - ou não sobreviverá.

Segundo Max Gehringer devemos aprender com as mulheres. Observe o exemplo delas em sua escalada no mundo dos negócios. Um levantamento feito em 400 empresas demonstrou que atualmente mais de 50% das empresas têm como sua principal executiva uma mulher. Na década de 70 esse percentual era zero. Numa única geração elas decidiram ser melhores do que haviam sido em toda a história, desde as cavernas. Essa lição vale para todos. Quando a gente acorda de manhã querendo ser o melhor acaba conseguindo.

Mas mudar não é fácil
Não é fácil mudar porque, primeiro, a mudança nos remete para fora da nossa zona de conforto, rumo ao desconhecido, sem certezas e garantias de resultados, gerando assim medo e ansiedade. Segundo, porque a maioria das pessoas não tem a menor idéia do motivo pelo qual estão mudando, são apenas levados pelo fluxo da multidão.

Será que ainda não entendemos que as mudanças, hoje tão necessárias às empresas e à vida pessoal, para serem realmente eficazes devem passar por um processo de maturação lenta e gradual? E que essas mudanças serão oriundas da soma das pequenas mudanças diárias na forma de agir sobre comportamentos que, não repentinamente, mas aos poucos, alterarão a mentalidade e as atitudes?

Mudar não se restringe simplesmente a acionar um botão de liga ou desliga, envolve um processo psicológico baseado em motivos pessoais. Isto é: só muda quem quer.

É importante agir cada um a seu ritmo, no ritmo que é possível naquele exato momento. Cada um precisa de tempos diferentes para decidir, para perceber claramente esse processo de mudança. É um processo que não se deve apressar ou forçar de fora, mesmo que pareça evidente a solução. Podemos informar, dar nosso parâmetro, nosso apoio, mas não devemos induzir ninguém a decidir. A pessoa saberá quando é o momento dela. E se não souber, continuaremos apoiando-a, até que esse momento se descortine naturalmente frente aos olhos desta pessoa.

O homem, por medo do sofrimento, parece ter se rendido à vontade de não crescer, não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. Era o que Nietzsche pensava. "Crescer dói, descobrir dói, amar dói, se apaixonar dói muito".

Desafios e mudanças caminham junto com oportunidades e crescimento. Não aceitar mudanças pode significar bloquear seu futuro. Atualmente, quem se adapta às mudanças apenas sobrevive, para se sobressair temos que promover a mudança.

Viver é estar diante do eterno paradigma ameaças x oportunidades. Toda mudança traz a semente do novo, do medo, do desconhecido, do ridículo, do falível. Mas por outro lado também traz a oportunidade da experimentação, da inovação, da vitória, do sucesso, da curiosidade, da espontaneidade e da originalidade.

Como diz um provérbio chinês, "Não se salta um precipício em dois lances"
O professor de lingüística da Universidade de Berkeley e um dos mais respeitados pensadores do mundo atual, George Lakoff defende a tese de que as pessoas só mudam suas idéias e postura de vida trocando um modelo mental por outro. A Neurociência vem nos mostrando que os conceitos que estruturam nosso pensamento são construídos em sinapses no cérebro, explica ele. Para mudar um comportamento X, temos de construir outros modelos em nossa mente. Não basta simplesmente sermos apresentados a novos fatos se eles não fizerem sentido. Eles precisam ser absorvidos para compor um novo modelo mental, algo que só acontece se a pessoa estiver aberta a aprender. Daí ser tão importante estar sempre abastecendo o cérebro com novos conhecimentos de forma a deixá-lo preparado para o diferente.

Mas ainda assim é importante questionar os novos modelos antes de adotá-los. Manter a mente aberta não significa atirar-se ao que é novo só porque é novo. É preciso avaliar bem o momento de "pular o precipício". E, recorrendo às palavras de Shakespeare, "a prudência é a melhor parte da ousadia". Senão corre-se o risco de cair na conversa de qualquer guru de plantão.

As pessoas simplesmente não enxergam que a vida recomeça a cada manhã e que, sim, tudo pode mudar!

Tudo começa pela humildade, admitindo que ninguém é dono da verdade, inclusive você. Sendo assim, temos sempre o que melhorar , seguindo o exemplo da filosofia Kaizen*.

Para isso, comece observando as pessoas ao seu redor, sejam profissionais de sua área, não necessariamente somente do seu ramo de atividade, até empreendedores do terceiro setor, desde que sejam considerados excelentes. Aprenda com as atitudes dos outros.

Busque conhecimento através de livros, revistas, artigos, cursos, palestras, internet, enfim, onde for possível. Mas lembre-se: existem dois pontos importantes a se considerar. O primeiro é que existe uma tendência em buscarmos conhecimento apenas em assuntos diretamente relacionados ao nosso ramo, profissão ou dia-a-dia e com isso perdendo muitas oportunidades de aprender lições fora da nossa área. Por exemplo, se você é engenheiro, busque novos conhecimentos na área de filosofia, deste modo você consegue alterar a sua estrutura de pensamento e por sua vez reelaborar seus modelos mentais.

O segundo ponto é que nenhum conhecimento é útil se não puder ser aplicado no seu dia-a-dia e com isso venha agregar valor ao seu cotidiano.

Essa é uma questão que pode ser avaliada sob o prisma de tendências x pendências. Você sabe a diferença entre elas?

Tendência é o que eu ainda não sei. Já pendência é aquilo que eu já sei, mas ainda não implementei.

Pare! Faça umaauto-análise. Quantas coisas você sabe e aprendeu, mas não aplica em sua vida? Com certeza você estudou, se formou , fez uma pós-graduação, concluiu MBA, talvez até um mestrado e um doutorado, já leu centenas, talvez até milhares de livros até agora, assistiu infinitas palestras, participou de dúzias de cursos e workshops. Enfim, sua bagagem de conhecimento é imensa, mas você está conseguindo implementá-lo? Quanto deste conhecimento já está ultrapassado?

É possível conhecer alguma coisa de verdade ou só achamos que a conhecemos?
Esta é uma das questões mais antigas e mais duradouras da filosofia. Nem todos os filósofos concordam. Alguns acreditam que sim, podemos conhecer de verdade, outros que não. Entre aqueles que acreditam que sim, temos duas correntes principais: o ceticismo e o dogmatismo. Já os niilistas acreditam que não.

O constante acúmulo de novas informações pode levar a uma mudança no seu conhecimento sobre o assunto. Você pode apenas acrescentar coisas novas ao seu arquivo mental, bem como pode fazer mudanças com elas. É possível que você passe então a acreditar em outras coisas. Isso significa que durante a sua vida você verá seu conhecimento mudar e com ele sua razão. Ou seja: sua forma de pensar. Quem sabe você até não começa a ver as coisas por outro ângulo?

Conforme o pensamento muda, mudam os conhecimentos e assim mudam as verdades.

A própria verdade muda. Nem sempre o que um povo acha ser verdade é o mesmo que o outro acha. Nem sempre o que uma pessoa acha ser verdade a outra também acha. Mais ainda: nem sempre a verdade corresponde à realidade.

Se até a verdade muda porque você não haveria de mudar?

*Kaizen ('kai' significa, em japonês, mudança e 'zen' para melhor) é uma palavra de origem japonesa com o significado de melhoria contínua, gradual, na vida em geral (pessoal, familiar, social e no trabalho).


Publicado em Administradores.com.br - 28 de setembro de 2011, às 07h14min

3 comentários:

  1. Dileto Prof. Flávio,

    Terei a ousadia de tecer esse comentário de maneira poética e aberta dada às várias reflexões que surgiram ao longo de tão bela leitura.
    Também acredito que as dificuldades em assumir essa estranha companheira "mudança", dar-se-á pelos receios, temores, comodismo e percalços que seguem a trilha dos que desviam suas rotas da tão famosa "Zona de Conforto". Será que é tão confortável assim? Paremos só por um dia, para perceber quanta informação, trabalho e vida perdemos pela desatualização frenética do saber, do mercado, das pessoas e do mundo. Todos os dias acordamos como seres novos; acredito que não pensar dessa forma nos remeteria aos mais sombrios dos dilemas humanos: passar toda a vida sendo o mesmo, igual, estático... Veja se não nascermos denovo o que nos aconteceria, pensemos em todas as áreas das nossas vidas: um novo Administrador, novo Contador, novo Estudante, novo Trabalhador, novo Esposo, Novo Filho, Novo... Será que estaríamos discutindo essas idéias? Inevitavelmente mudar dói, não serei eu que discutirei com Nietzsche, pelo contrário, darei aval ao seu pronunciamento através de outro belíssimo do nosso grande poeta brasileiro Carlos Drummond: "Entre a dor e o nada, o que você escolhe?" Nisso amplia nossa reflexão e nos força a pensarmos que o processo de mudança eleva nosso ser para contemplação de nossos conhecimentos, saberes, práticas e relacionamentos. Reconhecer nossa fraqueza intelectual talvez seja a maneira mais indicada para iniciarmos nossas "mudanças diárias". Não obstante, acredito ser cabível aproveitar uma das máximas de Sócrates: "Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância". Então, mudem já!
    Ternos abraços.

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  2. Caro Geraldo;

    Que maravilha!!!
    Espetacular seu comentário. Isso imensamente qualifica meu blog. Com certeza ele deveria ser o texto de abertura/apresentação da matéria que postei. No entanto, agora, pensando de forma renovada, tenho a certeza, que ao menos nesta postagem existem: Introdução (pequena mas sincera - feita por mim) e Conclusão (fantástica, essa feita pela parceria que assumo, feita por você).

    Um grande abraço, e, por gentileza continue qualificando esse meu/nosso blog com seus maravilhosos comentários. E mais, tenha também a liberdade de propor, sugerir, encaminhar, determinar, matérias a serem aqui postadas.

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  3. Prof. Flávio,

    Agradeço a atenção! Que tal discutirmos sobre a adoção do horário de verão e o impacto (positivo ou negativo) sobre os negócios? Acho pertinente não apenas pela proposta da economia de energia, como também pelas transações comerciais feitas entre matrizes e filiais que operam em regiões diferentes. O que achas? Sucessos.

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