quarta-feira, 30 de março de 2011

Temporada de caça a cientistas


Estabilidade do País, desafio do pré-sal e formação de pesquisadores atraem investimentos em superlaboratórios de multinacionais

Carlos Lordelo e Felipe Mortara - Estadão.edu

O Brasil foi escolhido sede da Copa e das Olimpíadas após acirrada batalha com outros países. Também saiu na frente em outra competição que, embora  menos badalada, deixará um legado até mais importante: a disputa para atrair superlaboratórios, centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que já mobilizam  os sistemas educacional e de ciência e tecnologia do País.

Aproximar-se das universidades, formadoras da mão de obra para pesquisa, tem sido o caminho natural para empresas que apostaram no País. Só em 2010 foram anunciados investimentos da ordem de R$ 500 milhões no Parque Tecnológico da UFRJ, no Rio. É lá que Petrobrás e ao menos seis multinacionais estão instalando ou ampliando laboratórios. No Rio e em São Paulo, gigantes como IBM e DuPont já puseram em operação centros de ponta. E a Vale está criando polos tecnológicos em três Estados.

Nesses centros vão trabalhar profissionais que antes tinham como opção fazer ciência fora do País, como Bruno Betoni, de 33 anos, único brasileiro no Centro de Pesquisas Global da General Electric, na Alemanha. “Será uma grande oportunidade em termos acadêmicos e de negócios.”

Para quem pretende trabalhar nos superlaboratórios, Betoni adverte que a pesquisa em empresas tem um ritmo diferente e é preciso se preparar desde o início da formação. “No dia a dia, uso coisas que aprendi na formação básica, que muitos têm por inútil. Meu ferramental vai do primeiro ano da graduação até o fim do doutorado.”

Analistas atribuem a vinda dos superlaboratórios ao cenário de estabilidade do Brasil. Outros atrativos são o início da exploração de petróleo no pré-sal e os sucessivos recordes na formação de pesquisadores.

O número de doutores diplomados cresceu de 554, em 1981, para cerca de 12 mil, no ano passado. “É pouco, mas, se você analisar esse dado em perspectiva, verá o tamanho do avanço”, diz o oficial de Ciência e Tecnologia da Unesco no Brasil, Ary Mergulhão. “É um momento excelente, só que é preciso investir, elevando de 1% para 3% o porcentual do PIB aplicado em P&D.” Para ele, a vinda dos laboratórios mostra que a pesquisa no País atingiu reconhecimento “razoável”. “O problema é que ela não se traduz em patentes. O caminho mais curto para melhorar isso é colocar engenheiros e doutores nas empresas.”

O governo admite que a taxa de inovação nas empresas é “tímida”. “Um número inexpressivo de pesquisadores atua em empresas. Falta cultura de inovação  no ambiente empresarial e há pouca articulação das políticas industrial e de ciência e tecnologia, apesar dos esforços recentes”, diz Ronaldo Mota,  secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Espaço. O pré-sal pode ajudar a mudar essa realidade, como mostra o câmpus da UFRJ na Ilha do Fundão, polo da corrida  tecnológica para exploração de petróleo em águas ultraprofundas. A procura por espaço foi tão grande nos últimos dois anos que só restam três terrenos  livres. Estima-se que serão gerados no local 4 mil empregos até 2014, quando os novos polos de pesquisa devem estar prontos.

A francesa Schlumberger foi a primeira múlti a inaugurar um centro no Fundão, em novembro. Também anunciaram investimentos lá as americanas FMC Technologies, Baker Hughes e Halliburton. A espanhola Repsol está construindo um laboratório para investigação em petróleo e gás. A GE vai erguer, no parque, seu quinto Centro de Pesquisas Global. Fará pesquisas sobre combustíveis fósseis, mas também energias renováveis, mineração, transporte ferroviário e aviação.

Segundo o diretor executivo do parque, Maurício Guedes, as empresas que querem se instalar no Fundão passam por uma avaliação da universidade. “É fundamental que elas estabeleçam cooperação com grupos de pesquisa da UFRJ”, explica. “Empresas não procuram só engenheiros e doutores, mas também estudantes para ser estagiários em grupos de pesquisa.”

Guedes acredita que a chegada das múltis vai beneficiar também os cursos da área de humanas. “A UFRJ não vai mudar seu perfil, focar mais nas ciências exatas, mas vai se fortalecer como um todo. Cursos como Música e Artes, por exemplo, poderão ser incentivados por meio de patrocínios.”

A Petrobrás é a grande responsável por tanto investimento na UFRJ. Desembolsou R$ 1,2 bilhão para aumentar de 180 mil para 300 mil metros quadrados o tamanho de seu polo tecnológico no Fundão. A nova estrutura do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), inaugurada em outubro, tem cerca de 1.600 profissionais trabalhando na área de P&D e engenharia de projetos inovadores. O número de laboratórios passou de 137 para aproximadamente 200.

O gerente executivo do Cenpes, Carlos Tadeu Fraga, compara o momento atual da exploração petrolífera l com o que ocorreu nos anos 1980. Naquela década, marcada pelas bruscas elevações do preço do petróleo, o Brasil investiu para aumentar sua produção interna. “A maior parte das novas tecnologias, naqueles anos, foi desenvolvida no exterior. A diferença é que agora, com o pré-sal, é possível incentivar fornecedores a fazer isso no Brasil.”

Recrutamento. Uma das empresas que mais investirão no Fundão é a GE. As obras do centro devem acabar até fins de 2012, com  investimento inicial da ordem de US$ 100 milhões.

O laboratório deverá empregar 200 pesquisadores e engenheiros. Segundo o presidente da GE no Brasil, João Geraldo Ferreira, a múlti vai começar a contratar em maio e quer encerrar o ano com 70 cientistas em atividade nas estruturas já prontas. Para recrutá-los, planeja atuar em três frentes: atrair doutorandos antes mesmo que terminem os estudos, selecionar pesquisadores em universidades e órgãos públicos e até repatriar brasileiros.

Em abril, a GE abre um ciclo de palestras em 17 universidades. “Queremos nos aproximar das universidades e, a longo prazo, sugerir mudanças no currículo da  graduação para atender a demandas específicas do nosso centro”, diz João Geraldo.

O pré-sal é um dos temas de interesse da IBM, que dividiu seu laboratório entre Rio e São Paulo. A companhia definiu quatro áreas de pesquisa: recursos naturais, dispositivos inteligentes, sistemas humanos (que cuidará, entre outras coisas, de soluções para eventos como Copa e Olimpíada), e sistemas e serviços, cujo objetivo é melhorar a eficiência de todo tipo de serviço, do bancário ao de saúde.
Anunciado em meados do ano passado, o laboratório tem 20 pesquisadores, mas a empresa pretende chegar a 100. Para liderar as áreas, a IBM repatriou brasileiros de seus centros no exterior. É o caso do geólogo Ulisses Mello, de 52, cuja equipe já trabalha, por exemplo, com a prefeitura do Rio para melhorar a precisão geográfica da previsão do tempo. Hoje a resolução é de 18 quilômetros quadrados. A meta é baixar para 2 ou 3 km². Assim,  em vez de dizer genericamente que vai chover na zona sul, será possível especificar o bairro afetado e tomar medidas preventivas. “Talvez no futuro a gente  consiga desenvolver algoritmos usando radar, sensoriamento remoto, para prever com antecedência de 48 horas chuvas ou risco de deslizamento.”

O engenheiro Sergio Borger, de 45, é outro repatriado. Está animado com as possibilidades criadas por eventos como a Copa. “Queremos fazer  experimentos em estádios para ver como fornecer serviços de melhor qualidade.” Um dos focos é segurança. A IBM tem softwares que permitem identificar em  vídeo pessoas específicas no meio da torcida. “Mas não é só isso. O ingresso pode ser a informação biométrica do seu rosto, por exemplo: pessoal e  intransferível.”
Perfil. O matemático Claudio Pinhanez, de 47, que voltou ao Brasil em 2008 para ajudar a montar o centro da IBM, ficou surpreso com a qualidade dos currículos recebidos, mas defende ajustes nos programas de doutorado. “O importante é trabalhar com universidade e governo para formar doutores com perfil voltado para a indústria. Tem gente com essa característica que hoje não se sente atraída pelo doutorado, que diz: ‘Não quero dar  aula.’”

As parcerias com universidades pesaram na opção da americana DuPont por Paulínia (SP) como sede do seu Centro de Tecnologia e Inovação, inaugurado em 2009 – USP, Unicamp e Unesp estão num raio de 180 km do laboratório. Vinte pesquisadores trabalham no CTI. Eles buscam promover inovação e gerar patentes nas áreas de polímeros, blindagens e biotecnologia.

Natália Barros, de 26 anos, começou na empresa como estagiária, durante a graduação em Engenharia Química nas Faculdades Oswaldo Cruz. Foi estimulada  pela DuPont a entrar no mestrado – já iniciado, na Unicamp. “O tema da dissertação é ligado ao que faço aqui. Assim, agrego valor ao mestrado e contribuo com  a pesquisa da empresa”, afirma Natália, que desenvolve embalagens para alimentos. “O sonho de todo pesquisador é que sua idéia seja comprada por uma empresa  e aplicada.”

Aos 22 anos, o engenheiro químico Luiz Biazzi, recém-formado pela USP, já conseguiu realizar esse sonho. Está empolgado por ter seu nome no depósito da primeira patente desenvolvida integralmente no CTI – uma descoberta para o mercado sucroalcooleiro. “O trabalho na ciência é muito difícil. Há muita incerteza, pois você não sabe se vai der certo sua pesquisa”, diz.
Segunda maior empresa do Brasil, a Vale está criando centros de P&D para pensar como será a “mineração do futuro”. Vai instalar  laboratórios em Ouro Preto (MG), Belém (PA) e São José dos Campos (SP), cada um focado em uma área: mineração, desenvolvimento sustentável e energia,  respectivamente. Quer mudar o perfil de sua pesquisa, concentrada em atender a demandas imediatas das minas, como analisar o perfil do solo de um depósito de  minérios.

MIT. Quem está por trás da iniciativa é o ex-pró-reitor de Graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Araújo de Moraes Mello, chamado em  2009 para dirigir o Instituto Tecnológico Vale. Para administrar as unidades, escolheu profissionais com doutorado no exterior. “A pesquisa a longo prazo  envolve risco muito maior e não é possível ser feita nas estruturas atuais da Vale”, diz Mello, que pretende montar cursos de pós nos novos centros, para qualificar a mão de obra da própria empresa. Enquanto não vem a aprovação da Capes, faz convênios com universidades do Brasil e do exterior, como o  Massachusetts Institute of Technology (MIT). “Sou ambicioso.”

Noutra frente, a Vale tem feito parcerias com as Fundações de Amparo à Pesquisa de São Paulo, Minas e Pará para apoiar projetos com bolsas. Um dos beneficiados é o aluno do doutorado em Engenharia Elétrica na Federal do Pará Marcos Seruffo, de 27, que investiga diferentes formas de comunicação de dados em ambientes industriais – ou seja, vai aplicar o que desenvolveu em laboratório no mundo real das minas de bauxita.

“Os resultados que obtenho são da Vale, pois ela é a fonte financiadora. Só podem ser utilizados com finalidade científica”, diz Marcos, que pretende perpetuar a parceria. “Ainda não sei o que vai acontecer depois do doutorado. Mas sei que farei parte de um pequeno contingente da população bastante assediado, tanto pela academia quanto pelas indústrias.”


Matéria publicada no Estadão.com.br/Educação em 29/03/2011:

segunda-feira, 21 de março de 2011

A globalização e a contabilidade avançada

Tomislav R. Femenick - Mestre em Economia, Contador e Professor universitário

Até em passado recente, a Contabilidade – como prática, disciplina e ciência – era conceituada como um instrumento metodológico de mero registro dos atos e fatos que compunham ou alteram os direitos, bens, obrigações ou o patrimônio das sociedades empresárias e outras instituições particulares ou públicas. Essa concepção era compartilhada por um público amplo, pois assim pensavam, inclusive, empresários, executivos, autoridades governamentais e até uma parcela ponderável dos próprios profissionais contábeis. Todavia era uma visão distorcida, carente de um olhar mais amplo e profundo.

A dinâmica do desenvolvimento econômico do país e sua maior inserção no panorama internacional, assim como o desenvolvimento técnico e cientifico da realidade brasileira contribuíram para a alteração desse cenário. Hoje a Contabilidade é reconhecida como a ciência que registra, estuda e analisa a dinâmica, as causas e tendências das variações quantitativas e qualitativas do patrimônio das entidades, submetendo-as a criticas de natureza econômico-financeira.

Vistas do ponto de vista estrutural, as Ciências Contábeis podem ser entendidas como tendo quatro grandes vertentes: 
a) O registro dos atos e fatos das entidades;
b) A análise de segmentos ou do conjunto organizacional;
c) A participação na gestão dos negócios das instituições; e 
d) Atividades especializadas, estas desenvolvidas por especialistas que devem ter habilidades, conhecimentos e experiência adequados.

No primeiro caso está a atividade tradicional da Contabilidade, relacionada com os registros de todos os fatos que ocorrem na empresa e que podem ser representados em valor monetário; organização de um sistema de controles internos adequado às condições concretas da entidade; elaboração dos demonstrativos periódicos (balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados, de mutações patrimoniais e de valor agregado, fluxos de caixa etc.) sobre a situação econômica, patrimonial e financeira das entidades. No segundo, os contabilistas realizam análises dos demonstrativos, com a finalidade de apuração dos resultados obtidos e evidenciar as tendências do comportamento futuro, inclusive as análises de desempenho, cálculo do ponto de equilíbrio, determinação de preços de vendas, planejamento tributário etc.

Quanto à função gestão empresarial, os profissionais contábeis elaboram e acompanham os planos econômicos das sociedades, praticando a contabilidade gerencial (management accounting). Aqui se enquadram as funções de planejamento estratégico, orçamentos empresariais, controle de custos, logística integrada, processos de geração dos lucros, medida da eficácia e controladoria. A controladoria faz uso dos controles internos da sociedade e dos processos de planejamento estratégico e orçamentário, bem como da contabilidade de custos, como meio para se obter melhores resultados operacionais.

Por último, têm-se as atividades especializadas: a Auditoria e a Perícia Contábeis. A auditoria contábil tem por objetivo aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários e tem duas ramificações: a) a Auditoria Externa, que é realizada mediante o uso de um conjunto de procedimentos técnicos metodologicamente estruturados, com a finalidade de manifestar a opinião de Auditores Independentes sobre a adequação dos controles internos e a veracidade dos valores apresentados no conjunto das demonstrações contábeis de uma entidade; e b) a Auditoria Interna, que efetua levantamentos e comprovações dos controles internos, objetivando agregar valor ao resultado da organização, apresentando subsídios para o aperfeiçoamento dos seus processos. Por sua vez, a Perícia Contábil constitui o conjunto de procedimentos destinados a evidenciar provas em processos de litígio – em conformidade com as normas jurídicas e profissionais e a legislação específica –, mediante a elaboração de laudo ou parecer periciais contábeis.

Qualquer que seja a prática contábil exercida pelo contabilista, sempre será uma função que espelha ou se reflete em um universo mais amplo, o mundo dos negócios. Assim, há outro fenômeno a considerar: a economia e o mercado globalizados. Nessa equação, nenhuma nação, nenhuma empresa é um fator isolado, todas são elementos de um mesmo problema. Por isso é que a contabilidade há que se expressar em uma mesma linguagem, tem que ser uma ciência que usa os mesmos paradigmas e apresenta uma mesma resposta para situações similares.

È nesse contexto que se insere a Contabilidade Avançada, quer como disciplina teórica integrante do currículo dos cursos de Ciências Contábeis, que como elemento de prática do exercício profissional dos contabilistas, seguindo os preceitos da “Diretiva para a elaboração de um programa mundial de estudos de contabilidade e outras normas e requisitos de qualificação - TD 5” e do “Plano de estudo mundial para a formação de profissionais contábeis - TD 6”, editados pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento- UNCTAD.

Texto Publicado na TRIBUNA DO NORTE em 20/03/2011
http://tribunadonorte.com.br/noticia/a-globalizacao-e-a-contabilidade-avancada/175982

quinta-feira, 17 de março de 2011

Ensino da contabilidade se adapta às mudanças da profissão

Cursos de Ciências Contábeis passaram por modificações visando à formação de contadores com um novo perfil
 
Fernando Soares, especial para o JC

As mudanças estruturais e tecnológicas vividas pela contabilidade nos últimos anos começam a surtir efeito na área acadêmica e, consequentemente, na formação de novos profissionais. A adoção das normas internacionais, suplantando o modelo vigente anteriormente e a influência da Tecnologia da Informação (TI), através de elementos como o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) Contábil e Fiscal, são alguns dos fatores que influenciaram a criação de novas diretrizes nos cursos de graduação e pós-graduação.
O tempo em que o contador era responsável apenas por fazer escrituração ficou para trás. O burocrata absorto em uma pilha de papéis deu lugar ao gestor da informação. “O profissional está muito mais inserido no processo decisório da empresa, se configurando não só em um assessor fiscal e tributário”, analisa o coordenador da Comissão de Graduação em Ciências Contábeis e Atuariais (Cgatu) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), João Marcos da Rocha.
Para acompanhar as necessidades impostas pelo mercado de trabalho, o processo de formação de contadores passa por diversas modificações. Com o Brasil priorizando uma legislação societária em detrimento da legislação fiscal, os cursos tomam novos rumos. Há três anos, pelo menos, as universidades têm realizado alterações em seus currículos para se adaptar à nova realidade. Desde então, temas como administração e gestão de organizações e disciplinas práticas, que recorrem ao uso da tecnologia, tiveram seu espaço ampliado na grade de conteúdos. O mesmo ocorreu com a área de auditoria, visto que a audição dos negócios se configurou em mais uma tarefa a ser cumprida pelo contador.
O presidente da 6ª Seção Regional do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Sérgio Fioravanti, acredita que ainda não terminou a fase de adaptação dos cursos às reformas que atingiram a profissão. Segundo ele, ainda restam outros nós a serem desatados no ensino da contabilidade. “Solidificar nas grades curriculares o atendimento a todos os mais de 40 pronunciamentos técnicos editados no País nos últimos dois anos é o próximo desafio para os coordenadores”, garante.
O atual panorama contábil também criou perspectivas para os cursos de extensão. As demandas recentes estimulam a busca por aperfeiçoamento profissional. No entanto, o contador com ambição de retornar ao ambiente acadêmico esbarra na carência de mestrados e doutorados ligados à área no País. Apenas a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) disponibiliza mestrado em Ciências Contábeis, no Estado. Esse cenário é amenizado, em parte, pela vasta oferta de pós-graduações.
Mesmo com as instituições de ensino adaptadas ao padrão internacional de normas, há quem alerte para a existência de um conflito entre a legislação e as resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). “Alguns docentes não sabem o que dizer aos alunos. No momento em que as faculdades seguem à norma do conselho, os alunos vão perguntar ao professor se obedecem à lei ou a norma administrativa. A contabilidade está partindo para o campo da subjetividade”, lamenta Salézio Dagostim, especialista em finanças e professor da Escola Brasileira de Contabilidade (Ebracon).

Pucrs e Ufrgs priorizam versatilidade

Visão gerencial, adaptação à legislação vigente e uso de novas tecnologias. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) apostam nessa tríade para contemplar um perfil cada vez mais requisitado pelo mercado: o de contadores versáteis. Com a adoção do padrão internacional, em janeiro de 2008, as instituições passaram a trabalhar na formação de profissionais adaptados ao novo momento da contabilidade.
“Hoje, a função do contador está mais nobre. Aquele profissional que vinha com as Darfs para pagar e só gerava custo para a empresa está saindo do mercado e sendo substituído por um gestor da informação contábil, que faz análise de risco e sabe elaborar avaliações de patrimônio”, relata João Marcos da Rocha, coordenador da Comissão de Graduação em Ciências Contábeis e Atuariais (CGATU) da Ufrgs. Na faculdade, o ensino da contabilidade governamental e de temas ligados à Tecnologia da Informação (TI), como nota fiscal eletrônica, XBRL e o projeto Sped, fomentou a criação de novas disciplinas e a reestruturação de outras.
Na Pucrs, o processo de transição foi semelhante. A grade de conteúdos se voltou para os segmentos de controladoria e finanças. Neste ano, a graduação passará por uma revisão, visando a melhorias e modernização. “Passamos de uma contabilidade voltada ao fisco para uma contabilidade societária. Então, capacitamos o corpo docente de forma sistemática. Além disso, houve uma sinergia entre o mundo acadêmico e os profissionais de auditoria”, diz Saulo Armos, coordenador do curso de Ciências Contábeis. Um dos trunfos da universidade está na estrutura disponibilizada aos alunos, com 240 computadores e softwares para a realização de atividades práticas.
Ambas as universidades trabalham para preencher o déficit de cursos de extensão na área contábil no Estado. Recentemente, a Ufrgs acenou com a possibilidade de disponibilizar mestrado e doutorado. A ação seria viável a partir de uma aliança com duas universidades portuguesas e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A proposta segue em compasso de espera devido a entraves burocráticos e estruturais.
Até 2014, a Ufrgs pretende desenvolver um mestrado próprio, sem a contribuição de parceiros. Para isso, trabalha na capacitação do corpo docente, visto que o grande empecilho para a realização de especializações está na carência de doutores na profissão. A Pucrs também conjetura a oferta de um mestrado. A expectativa é de que a primeira turma seja aberta daqui a três anos.

Unisinos investe na expansão  do ensino a distância

A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) aposta na expansão do ensino a distância (EAD) para formar novos profissionais. A realização do curso de Ciências Contábeis nesses moldes nasceu de uma escuta de mercado realizada pela instituição, na qual ficou constatada essa necessidade. Oferecida desde o primeiro semestre de 2010, a graduação começa a ser disponibilizada nos polos de Caxias do Sul, Joinville e Porto Alegre neste ano. Anteriormente, ela era desenvolvida apenas em Canoas, Curitiba e Florianópolis.
As aulas são realizadas três vezes a cada sete dias, com cada disciplina tendo duração de nove semanas. Ao término desse período, o aluno faz a avaliação final em modo presencial, conforme dita as diretrizes do Ministério da Educação (MEC). Em todos os polos, a universidade tem parceiros responsáveis por uma estrutura física para a realização do exame. Todas as demais atividades, entretanto, ocorrem virtualmente. O material de apoio, as listas de exercícios e as videoaulas são desenvolvidos pelos docentes do curso presencial. A interação com os universitários e a correção de tarefas ficam a cargo dos professores tutores, contratados exclusivamente para desempenhar essas funções.
Os estudantes do EAD se encaixam, basicamente, em dois perfis: pessoas que retomaram os estudos em contabilidade após um período de interrupção e profissionais de outras áreas em busca de uma segunda formação. “Muitos alunos estão empregados e percebem que precisam desse conhecimento mais estratégico e técnico, pois ninguém na empresa em que ele trabalha possui essas características”, comenta Charline Pires, coordenadora do curso, que, somando todas as regiões, conta com 100 matriculados.
Charline destaca o fato de existir sintonia entre o currículo da graduação presencial e a distância. As cadeiras se equivalem em ambos os modelos. A última alteração realizada nos conteúdos programáticos foi feita após as mudanças no padrão de normas. Desde então, temas como contabilidade societária e contabilidade financeira ganharam maior destaque. Além disso, a gestão também ganhou uma abordagem diferenciada, abrangendo assuntos relacionados à administração estratégica e ao empreendedorismo.
A Unisinos permanece sendo a única universidade gaúcha a ministrar um mestrado na área. Com concentração em controladoria e finanças, as linhas de pesquisa da extensão acadêmica aludem à contabilidade para usuários externos, controle de gestão e finanças corporativas.

URI oferecerá mestrado em 2011

A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) ofertará, a partir do segundo semestre deste ano, mestrado em Gestão Estratégica de Organizações. Com duração de dois anos, a capacitação será conduzida no campus de Santo Ângelo da instituição. A investida no segmento de extensão foi motivada por um crescente interesse dos vestibulandos pelo curso de Ciências Contábeis, avaliado como o segundo melhor do Estado no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Em 2011, a procura pela graduação teve um aumento de 18%.
Para absorver as mudanças que a contabilidade vem passando, o currículo recebeu atualizações no início de 2008. Uma das preocupações da universidade se refere à formação de contadores com uma visão estratégica, possibilitando a atuação nos processos gerenciais. “Hoje, o profissional precisa ter uma visão maior e mais globalizada para conviver com as mudanças. Ele tem de saber que a contabilidade é muito mais ampla do que só fazer escrituração”, constata a coordenadora Neusa Salla.


Matéria publicada no Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul em 16/03/2011
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=57056

terça-feira, 8 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Hoje se homenageia internacionalmente a mulher, tendo em vista que em 8 de março de 1857, operárias norte americanas de Nova Iorque, fizeram uma grande greve numa fábrica de tecidos, reivindicando melhores condições de trabalho, equiparação de salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

Naquela época, a manifestação foi reprimida com total violência. Trancaram-nas dentro da fábrica, que foi incendiada. 130 operárias morreram carbonizadas.
Somente em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, decidiu-se que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher". Porém, apenas em 1975, a ONU oficializou a data.

Como hoje, a mulher ainda tem de provar tanta coisa e enfrentar imensas vicissitudes, mas, no entanto, têm conquistado garbosamente espaços maravilhosos (haja vista, termos hoje a primeira mulher presidente no Brasil), nada mais justo que sairmos de cena e refletirmos profundamente sobre os dizeres de uma mulher bem sucedida e intelectual (brasileira), sobre outra mulher ESPETACULAR (norte americana – ou cidadã do mundo?). Leiamos todos com muita atenção o artigo da doutora em Filosofia Márcia Tiburi, sobre a revolução de Lady Gaga.


O crime de Lady Gaga
Marcia Tiburi (*) analisa o pós-feminismo pop de Lady Gaga
Publicado na Revista CULT em 08 de maio de 2010

Lady Gaga é o mais recente ídolo pop da cena internacional. Entenda-se por ídolo pop um indivíduo que encanta as massas com a habilidade artística de que é capaz sendo seu autor ou o mero representante de uma estética inventada por publicitários e estrategistas de produtos culturais. Nesse sentido, todo ídolo pop age como o flautista de Hamelin conduzindo por certo efeito de hipnose uma quantidade sempre impressionante de pessoas. Ele é também um guia estético e moral das massas. A propósito, entenda-se por massa um grupo de indivíduos que, ao se encontrar com outros, perde justamente a individualidade, tornando-se sujeito de sua própria dessubjetivação. Em outras palavras, ele é hipnotizado como se estranhamente desejasse sê-lo. A Indústria Cultural depende desse mecanismo, por meio do qual oferece ao indivíduo a oportunidade de se perder com a sensação de que está ganhando. O ídolo pop é a humana mercadoria que permite o gozo pelo logro que o espectador logrado aplica a si mesmo.
Lady Gaga certamente veio para nos lograr. Mas, como disse Walter Benjamin sobre livros (e também putas), muitas vezes a mercadoria vale muito mais do que o dinheirinho que pagamos por ela.
O paradoxal desejo das massas
Antes de mais nada, é preciso ver que Lady Gaga, a despeito da qualidade boa ou má de si mesma e do que ela produz, vem a nós com números impressionantes. Se na internet seus vídeos são vistos por milhões de pessoas (certamente, quando você ler este artigo, os números serão ainda maiores) é porque ela mesma sabe – ou o diretor e roteirista de seus belos videoclipes nos quais a quantidade aparece, seja na nota de dólar com o rosto de Gaga como no vídeo de “Paparazzi”, seja em “Bad Romance” nos índices na cena dos computadores – que se trata em sua obra da questão da quantidade, mais do que da qualidade. A Indústria Cultural sempre tem na quantidade uma questão mais importante do que a qualidade, mas, se Lady Gaga sabe disso e não o esconde, é porque elevou o cinismo a discurso, mas, ao mesmo tempo, lança-nos uma ironia capaz de fazer pensar.
A questão da quantidade adquire um contorno subjetivo na mentalidade dos indivíduos aniquilados no todo. Assim, uma característica expositiva da condição das massas de nosso tempo é o próprio “desejo de ser massa”. Trata-se da ânsia de adesão ao todo que se disfarça no desejo de saber o que todo mundo sabe, ver o que todo mundo vê. Complicado falar de desejo das massas, quando a “massa” remonta à possibilidade de se deixar moldar pela ação exterior justamente por ausência de desejo. Podemos, no entanto, entendê-lo usando uma imagem gasta como a da ovelha a participar do rebanho. Um modo de ter lugar desaparecendo mimeticamente no todo. Nesse sentido, o desejo de ser massa é o mesmo que nos coloca na situação de fazer parte da audiência fazendo com que liguemos a televisão no programa mais visto, que queiramos ver o filme com a maior bilheteria, que, caso cheguemos a desejar um livro, seja da lista dos mais vendidos. Fazer parte da audiência é a garantia de que em algum momento estaremos juntos, que faremos parte de uma comunidade mesmo que ela seja apenas “espectro”. A angústia da solidão, da separação e da própria individuação desaparece por um passe de mágica da imagem do ídolo pop.
Uma estética pop para o pós-feminismo?
A obra da jovem Lady Gaga não é objeto descartável como a maioria das mercadorias promovidas no contexto da indústria e do mercado cultural. Se nos detivermos em sua música, em sua dança ou em sua imagem isoladamente, não entenderemos o todo da mercadoria. Portanto, é preciso estar atento à performance que ela realiza. A apreciação disto que devemos hoje chamar de obra-produto ou produto-obra deve começar por aí, tendo em vista que, acima de tudo, Lady Gaga é uma performer que agrega em seus vídeos diversas formas artísticas que vão da música ao cinema, passando pela dança e chegando a uma relação curiosa com um aspecto inusitado da produção contemporânea nas artes visuais. Lady Gaga tange em seus vídeos mais famosos questões que estão presentes na obra de artistas contemporâneas que podemos chamar de vanguardistas por falta de expressão melhor, tais como Cindy Sherman, Daniela Edburg e Chantal Michel. No Brasil, Karine Alexandrino, Paola Rettore ou o pernambucano Bruno Vilella praticam a mesma suave ironia até o mais cáustico deboche com trabalhos sobre mulheres mortas.
O tema da mulher morta torna-se quase um lugar-comum na arte contemporânea, como foi no século 19. Naquele tempo, ele representava o impulso próprio do romantismo que via na mulher falecida e inválida um ideal agora retomado de modo irônico por diversas artistas contemporâneas. Lady Gaga vai, no entanto, muito além dessas artistas em termos de coragem feminista. Enquanto elas zombam das mulheres estereotipadas que morrem como Ofélias por um homem, Lady Gaga, de modo mais surpreendente e corajoso do que importantes artistas cultas, dá um passo adiante.
No vídeo de “Paparazzi” fica exposto o amor-ódio que um homem nutre por uma mulher, a invalidez à qual ela é temporariamente condenada por sua violência e, por fim, uma vingança inesperada com o assassinato desse mesmo homem. “Incitação à violência”, pensarão as mentes mais simples; “feminismo como ódio aos homens”, dirá a irreflexão sexista acomodada, quando na verdade se trata de uma irônica inversão no cerne mesmo do jogo simbólico que separa mulheres e homens. Se em “Paparazzi” o deboche beira o perverso autorizado psicanaliticamente (a mulher sai da posição deprimida ou melancólica e aprende a gozar com seu algoz, que ela transforma em vítima), em “Bad Romance”, “o vídeo mais visto de todos os tempos”, mulheres de branco – como noivas dançantes – surgem de dentro de esquifes futuristas para curar uma louca que chora querendo ter um “mau romance” com um homem. Um contraponto é criado no vídeo entre a imagem do rosto da própria Gaga levissimamente maquiado, demarcando o caráter angelical de sua personagem, em contraposição ao caráter doentio da personagem da mesma Gaga de cabelos arrepiados e olhos esbugalhados. Entre eles a bailarina sensual junto de suas companheiras faz o elogio do corpo que é obrigado a se erotizar diante de um grupo de homens.
A noiva é queimada. Sobre a cama, no fim, a noiva como um robô um pouco avariado, mas ainda viva, contempla o noivo cadáver. A ironia é o elogio do amor-paixão, do amor-doença e morte ao qual foi reduzido o amor romântico pela estética pop da ninfa pós-feminista. O feminismo só tem a agradecer.
Em “Telephone”, a estética eleita é a da lésbica e da pin-up. Ambas criminosas. A primeira por ser uma forma de vida feminina que dispensa os homens, a segunda por ameaçá-los com uma estética da captura (a mulher-imagem-de-papel, a mulher “cromo”, a mulher-desenho-animado que configura o conceito do “broto”, do “pitéu”). No mesmo vídeo o personagem de Gaga compartilha com Beyoncé uma cumplicidade incomum entre mulheres.
Esse sinal é dado no meio do vídeo, quando Beyoncé vai resgatar Gaga na prisão e ambas mordem um pedaço de pão, que logo é lançado fora como algo desprezível. A comida mostra-se aí como o objeto do crime. O vídeo é mais que um elogio ao assassinato do mau romance, ou da vingança contra o evidente amor bandido de quem a personagem de Beyoncé quer se vingar. Trata-se de uma profanação da comida pelo veneno que nela é depositado. O amor bandido é morto pela comida, uma arma simbólica muito poderosa associada à imagem da mulher-mãe, da mulher-doação, dedicada a alimentar seu homem na antipolítica ordem doméstica.
O palco é a lanchonete de beira de estrada como em Assassinos por Natureza, de Oliver Stone. O assassinato é o objetivo do serviço das duas moças perversas que, no fim do vídeo, dançam vestidas com as cores da bandeira norte-americana – meio Mulher Maravilha – diante dos cadáveres de suas vítimas, já que, além do amor bandido, todos morreram. Cinismo? Sem dúvida, mas como paradoxal autodenúncia.
Mas o maior crime de Gaga, aquilo que fará com que tantos a odeiem, não será, no entanto, o feminismo sem-vergonha que ela pratica como uma brincadeira em que o crime é justamente o que compensa? E, como ídolo pop, não poderá soar aos mais conservadores como um modo de rebelar as massas de mulheres subjugadas pela perversa autorização ao gozo, doa a quem doer?



(*) Marcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
É professora do programa de pós-graduação em Arte, Educação e História da Cultura da Universidade Mackenzie, colunista da Revista Cult e participou do programa Saia Justa, do canal GNT.
Publicou:
ü  As antologias As Mulheres e a Filosofia (Editora Unisinos, 2002),  O Corpo Torturado (Ed. Escritos, 2004), e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero (Edunisc);
ü  Os ensaios Uma outra história da razão (Ed. Unisinos, 2003), Diálogo sobre o Corpo (Escritos, 2004), Filosofia Cinza - a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (Escritos, 2004), Metamorfoses do Conceito (ed. UFRGS, 2005);
ü  Os romances Magnólia (2005) e a Mulher de Costas (2006), da série Trilogia Íntima (Ed. Bertrand Brasil);
ü  Filosofia em Comum - para ler junto (Record).

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Contabilidade é a Língua dos Negócios

Autor: Antoninho Marmo Trevisan
 
A frase do título deste texto foi dita por Warren Buffett, em resposta à filha de um de seus parceiros nos negócios, com dúvidas sobre qual curso ela deveria fazer. Buffett deve saber o que está falando, afinal, é o investidor mais bem sucedido em todo mundo, um dos poucos que se manteve incólume na crise em que o sistema financeiro mundial submergiu no final do ano passado.

Crise é sempre crise e, por mais que se fale nas oportunidades que esses momentos possibilitam, diante dela a gente treme. Como tantos já disseram a economia não é uma ciência exata e, por isso mesmo, nem sei bem ao certo porque tanta gente insiste em fazer previsões econômicas. A única certeza sobre a qual se pode tirar conclusões diz respeito aos números da economia. E, nesse caso, se a ela é incerta, a contabilidade não mente. Se um investidor quiser conhecer uma empresa, o caminho mais curto é analisar o seu balanço, independentemente do contexto econômico em que se encontra o seu setor, o seu país, o mundo.

Embora a tendência seja ser pessimista quando o calo aperta nos momentos de crise, basta olhar para as informações contábeis para se obter uma visão realista sobre o futuro. Isso também serve para os períodos de euforia: um gestor eficiente será sempre realista e prudente no seu planejamento estratégico ou nas suas decisões de investimento.

A verdade é que, com crise ou sem crise, do ponto de vista da gestão, está ocorrendo uma enorme revolução na maneira de gerir as corporações. Sem dúvida alguma, a contabilidade faz parte disso. Nunca antes na história o contador teve tanto prestígio dentro de uma corporação. Na hora de tomar uma decisão, o bom gestor sempre terá ao seu lado um contabilista com informações saídas do forno.

E é verdade também que o Brasil tem a vantagem de ser um país de empreendedores. Diferentemente do outros povos, o brasileiro é capaz de fazer negócios das formas mais criativas. Além disso, é fato que o nosso mercado interno se ampliou, incorporando fatias da população que social e economicamente estavam apartadas do consumo.

É certo que vivemos atualmente momentos de grave instabilidade e encaramos problemas difíceis. Porém, a estrutura da economia brasileira é hoje muito mais sólida do que no passado. Dispomos de recursos e de alternativas, contamos com instituições estáveis e consolidadas e a nossa democracia tem se fortalecido a cada nova eleição.

No entanto, é preciso que empresas e agentes de mercado tenham em mente que a gestão responsável é essencial para superar uma conjuntura adversa. A lógica do padre Luca Pacioli, considerado o pai da contabilidade, está voltando. Com ela, resgata-se a visão de que uma empresa não pode viver de fantasia, mas precisa ser gerida a partir da verdade dos números, das referências do débito e do crédito, da aplicação e da origem do recurso.

Para emergir nesse novo contexto mundial, pós-crise financeira, o melhor é estar muito bem acompanhado. Mais do que nunca, é prudente valorizar os que oferecem dinamismo, criatividade, pronto atendimento e, sobretudo, solidariedade profissional.


Fonte:  http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/contabilidade-e-a-lingua-dos-negocios/21585/


Antoninho Marmo Trevisan é presidente da Trevisan Outsourcing, Escola de Negócios e Consultoria, do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, da Academia Brasileira de Ciências Contábeis e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)