domingo, 21 de agosto de 2011

CRISE MUNDIAL: Brasil em 2008 x Brasil em 2011


Brasil em 2008 x Brasil em 2011: estamos mais bem preparados?

A pedido de EXAME.com, a LCA Consultores levantou 11 indicadores que mostram o atual nível de blindagem da economia brasileira

São Paulo – Não é possível afirmar qual será a extensão da atual crise na economia dos países desenvolvidos e seus reflexos no Brasil. Em 2008, havia bancos e empresas em apuros. Agora, são os governos endividados que tiram o sono dos investidores.

O cenário mais provável apontado pelos economistas ainda é de “apenas” crescimento muito baixo durante vários anos nos países ricos. Um duplo mergulho recessivo só virá, dizem os analistas, se houver alguma ruptura no sistema financeiro que afete o canal de crédito.

O desempenho da China, nosso principal cliente externo, é fundamental para determinar o grau de contaminação da economia brasileira. Se os chineses souberem driblar as dificuldades, o Brasil será favorecido.

Mas, na ponta do lápis, qual é o nível de blindagem da nossa economia? Estamos mais bem preparados do que estávamos em 2008? A pedido de EXAME.com, o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, levantou e analisou 11 indicadores que, reunidos, formam um raio-x da saúde econômica do Brasil.

“De uma forma geral, estamos mais bem preparados do que estávamos na crise de 2008. Se por um lado a contração inicial da atividade econômica pode ser maior por causa do volume maior de estoques, por outro, o tempo e o ritmo de recuperação tendem a ser mais rápidos”, diz Borges.

Veja a seguir a comparação entre os dois períodos. Ao lado de cada indicador, está destacado se o quadro melhorou, piorou ou ficou sem alteração (veja tabela resumo na última página desta reportagem).

Reservas internacionais – o quadro melhorou
Em agosto de 2008, o Brasil tinha US$ 210 bilhões em reservas internacionais. Agora, possui US$ 350 bilhões. “É importante notar que, em 2008, a dívida externa de curto prazo (com vencimento em até um ano) consumia um quarto das reservas. Agora, representa apenas um sexto das reservas, o que nos dá ainda mais tranquilidade”, diz Bráulio Borges.

Alavancagem dos bancos – praticamente igual
Em setembro de 2008, o índice de Basileia era de 16,5%, ou seja, os bancos tinham R$ 16,50 de capital próprio para cada R$ 100 emprestados. O dado mais recente, de dezembro de 2010, está em 16,9%. O índice recomendado internacionalmente é de 8% e o Banco Central determina 11%. “Estamos bem tranquilos. É possível que o número atual esteja ainda melhor por causa das medidas macroprudenciais. A saúde do nosso sistema financeiro, na média, está boa, mas isso não quer dizer que alguns bancos eventualmente não tenham problema de liquidez caso a crise se agrave”, avalia o economista-chefe da LCA Consultores.

Depósitos compulsórios – o quadro melhorou
Em agosto de 2008, o Banco Central tinha R$ 261 bilhões retidos em depósitos compulsórios. Agora, possui R$ 459,6 bilhões. “Hoje, o Banco Central tem uma capacidade de injetar muito mais liquidez na economia do que tinha naquela época”, diz Borges.

Taxa Selic – “piorou”
Para o funcionamento normal da economia, quanto menor a Selic, melhor tende a ser o desempenho da atividade produtiva. Porém, quando se fala em resposta a uma crise, quanto mais baixa a Selic estiver, menos espaço haverá para a política monetária. Em setembro de 2008, a taxa básica de juros estava em 13,75%, e, atualmente, está em 12,50%. “Hoje temos uma margem menor de manobra para a redução de Selic”, diz o economista. É nesse sentido que o quadro “piorou”.

Taxa de desemprego – melhorou
Em agosto de 2008, a taxa de desemprego dessazonalizada era de 7,5%. Agora, em junho, é de 6,1%. “A velocidade de recuperação da economia após um choque tende a ser maior agora dado que a gente parte de um nível de desemprego mais baixo”, diz Bráulio Borges.

Superávit primário – piorou
O superávit primário mede a capacidade do governo de fazer política fiscal anticíclica. Em setembro de 2008, o superávit era de 3,9% do PIB no acumulado em 12 meses. Agora, no dado mais recente de junho, é de 3,5%. Descontada a operação de capitalização da Petrobras, o superávit é de 2,7%. “Do ponto de vista do resultado primário, a margem fiscal do governo é menor agora”, explica o economista-chefe da LCA Consultores.

Dívida pública – melhorou
A dívida líquida em relação ao PIB era de 42,9% em agosto de 2008. O dado mais recente, de junho de 2011, mostra que essa relação caiu para 39,7%. “Se por um lado o superávit primário piorou (ver acima), por outro, a dívida é menor, o que dá margem para uma expansão dos gastos temporariamente. Na prática, um dado compensa o outro”, avalia Borges. A dívida bruta, por sua vez, não sofreu quase alteração (56% em 2011 ante 56,1% em 2008). Apenas para efeito de comparação, os países desenvolvidos que estão em sérias dificuldades têm endividamento superior a 90% do PIB.

Inflação oficial medida pelo IPCA – piorou
Estoques muito elevados são um sinal de perigo em momentos de crise. Estudo da FGV mostra que, em agosto de 2008, 6,5% das indústrias relatavam ter estoques excessivos e 5,5% diziam ter estoques insuficientes para atender a demanda. A diferença líquida entre esses dois índices era de 1% de estoques excessivos. Agora, em julho de 2011, são 6,6% e 2,2%, respectivamente, dando uma diferença líquida de 4,4% de estoques excessivos. “Isso significa que hoje a indústria está mais estocada, o que é ruim. A atividade está mais fraca e, se vier um choque de demanda, levará mais tempo para os empresários se livrarem dessas mercadorias", diz Bráulio Borges.

Grau de exposição cambial das empresas – melhorou
Embora não exista um dado oficial, a LCA Consultores estima que, ao contrário de 2008, agora não há grandes exposições cambiais de empresas. Na ocasião, companhias como Sadia e Aracruz tiveram sérias dificuldades com apostas em derivativos. “As medidas que o Banco Central tem tomado estão inibindo essas operações. Isso significa que, em tese, o dólar tende a se desvalorizar menos em caso de agravamento da crise. Em 2008, as empresas estavam excessivamente vendidas em dólar e tiverem que sair correndo para comprar a moeda americana quando a crise estourou , causando a disparada da cotação do dólar”, avalia o economista-chefe da LCA Consultores.

Exportações – melhorou
O peso das exportações em relação ao PIB mostra o quanto um país depende do comércio exterior para crescer. Essa dado é importante em momentos de crise internacional, quando as exportações e as importações tendem a esfriar. No caso do Brasil, essa relação era de 14,4% no terceiro trimestre de 2008 e, agora, no primeiro trimestre deste ano, está em 10,7%, ou seja, o Brasil depende menos do comércio exterior. Apenas para efeito de comparação, a média mundial é de 27%. “O cenário perfeito seria o Brasil não depender tanto de commodities, mas, de qualquer forma, essa relação exportações/PIB é positiva. Isso significa que o mercado interno garante a proteção do Brasil em momentos de crise”, diz Borges.

Quadro resumo dos 11 indicadores analisados pela LCA Consultores
Indicadores
2008
2011
Melhorou ou piorou?
Reservas internacionais
US$ 210 bi
US$ 350 bi
melhorou
Alavancagem dos bancos
16,5%
16,9%
praticamente igual
Depósito compulsório
R$ 261 bi
R$ 459 bi
melhorou
Taxa de juros (Selic)
13,75%
12,50%
"piorou"
Taxa de desemprego
7,5%
6,1%
melhorou
Superávit primário/PIB
3,9%
2,7%
piorou
Dívida líquida/PIB
42,9%
39,7%
melhorou
Inflação (12 meses)
6,2%
6,9%
piorou
Nível de estoques (líquido)
1%
4,4%
piorou
Exposição cambial
grande
pequena
melhorou
Exportações/PIB
14,4%
10,7%
melhorou


Publicado pela Revista Exame em 16/08/2011:

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CHAVE DO VENTO



Seria a liberdade absoluta de alguém que como ele próprio sempre se dissera, um “livre pensador”? 

Ou, seria a pura imaginação criativa de alguém que se pensasse a pensar com a liberdade do vento, e por isso possuísse a chave do mesmo?

Mas não seria nada disso. Fora apenas liberdade criativa de um vaqueiro lúdico, que em momento magistral de inspiração, e integral relação com o ser e a vida, nominou o seu belo e imponente potro, que logo mais viria a tornar-se o seu companheiro integral de labuta e vida, de “CHAVE DO VENTO”.
 
Mas por quê?

Talvez quem sabe, por tudo quanto ele representava no seu mais íntimo e aberto ser. 

Talvez tivesse aí a licenciosidade absoluta e literária de um belo vaqueiro das colinas de Inhambupe. 

Quem sabe o sonho integral de um Cavaleiro Andante, de um Dom Quixote e seu El Toboso.  E aí, por que não então Chave do Vento?

E assim eu o imagino, sem nunca ter podido presenciar esse momento. Ou seja, na plena altivez de dois seres muito próximos e parecidos em si a galopar nas imensidões da fazenda “Oitero” (outeiro), como se fossem integrais donatários daqueles mundos, quem sabe a pensarem-se, como ele sempre me dissera um bravo e imponente Cavaleiro de Carlos Magno, a pugnar pela liberdade e propagação do reino de Deus, através de gloriosas Cruzadas. E aí não se sabe quem possuíam a chave do vento. 

Ele ou cavalo? 

Ou ele a possuía entre suas pernas, no lombo daquele majestoso animal, que conviviam uma infinita e impensável cumplicidade.

Naqueles momentos, que repito, nunca pude presenciar, mas imaginá-los na nitidez existente só de quem as viveu, não seria possível saber quem era quem... E só aí percebo a profundidade do nome. 

Para quem seria esse nome? 

Para um cavalo?

Para um vaqueiro?

Ou para ambos, que em sua inteireza e unicidade poderiam sim, ser a CHAVE DO VENTO.

Umas nem sei quantas vezes um salvou o outro. Momentos o cavalo, que sentia uma sua parte em perigo, em risco e assim evitava, de forma heroica que a atroz fatalidade se concretizasse, como acontecera no caso do pé de “braúna”, ou quando do boi preto (o pissote) desgarrado da boiada pendeu pros lados da baixa dos calumbi... 

Momentos o vaqueiro inteiramente perdido de amores e zelo pela sua outra parte, dedicava integral atenção a cuidar dela como se a certeza fosse evidente que se tornaria mutilado com a falta dela. Daí eu ter ouvido sei lá quantas dezenas de vezes, de forma didática e determinantemente decisiva: “Por falta de um grito, o majestoso cavalo, pisa num buraco, cai, quebra o pescoço e morre...”.

E daí a derrota, a imperfeição, a tristeza, a integral incapacidade de um homem que não pode preservar a sua melhor parte... E isso, ouvi silente e triste, sempre tocado pelo mesmo sentimento, um sem número de vezes de um homem mutilado, morto em sua melhor parte:

“...e ele pisou num buraco do terreno irregular... caiu...ouvir o osso do pescoço se quebrar entre meus braços, que num abraço me protegia como sempre... e entre minhas pernas senti o seu último frêmito de vida... e ali ficamos caídos.. inertes...  ele sem dúvida a cavalgar pelas pradarias da imensidão...sendo talvez agora o próprio vento...e eu ali, perdido, derrotado. Destruído...sem a minha CHAVE DO VENTO!...


Flávio Dantas (retalhos de lembrança de seu Totonho)