Seria a liberdade absoluta de alguém que como ele próprio sempre se dissera, um “livre pensador”?
Ou, seria a pura imaginação criativa de alguém que se pensasse a pensar com a liberdade do vento, e por isso possuísse a chave do mesmo?
Mas não seria nada disso. Fora apenas liberdade criativa de um vaqueiro lúdico, que em momento magistral de inspiração, e integral relação com o ser e a vida, nominou o seu belo e imponente potro, que logo mais viria a tornar-se o seu companheiro integral de labuta e vida, de “CHAVE DO VENTO”.
Mas por quê?
Talvez quem sabe, por tudo quanto ele representava no seu mais íntimo e aberto ser.
Talvez tivesse aí a licenciosidade absoluta e literária de um belo vaqueiro das colinas de Inhambupe.
Quem sabe o sonho integral de um Cavaleiro Andante, de um Dom Quixote e seu El Toboso. E aí, por que não então Chave do Vento?
E assim eu o imagino, sem nunca ter podido presenciar esse momento. Ou seja, na plena altivez de dois seres muito próximos e parecidos em si a galopar nas imensidões da fazenda “Oitero” (outeiro), como se fossem integrais donatários daqueles mundos, quem sabe a pensarem-se, como ele sempre me dissera um bravo e imponente Cavaleiro de Carlos Magno, a pugnar pela liberdade e propagação do reino de Deus, através de gloriosas Cruzadas. E aí não se sabe quem possuíam a chave do vento.
Ele ou cavalo?
Ou ele a possuía entre suas pernas, no lombo daquele majestoso animal, que conviviam uma infinita e impensável cumplicidade.
Naqueles momentos, que repito, nunca pude presenciar, mas imaginá-los na nitidez existente só de quem as viveu, não seria possível saber quem era quem... E só aí percebo a profundidade do nome.
Para quem seria esse nome?
Para um cavalo?
Para um vaqueiro?
Ou para ambos, que em sua inteireza e unicidade poderiam sim, ser a CHAVE DO VENTO.
Umas nem sei quantas vezes um salvou o outro. Momentos o cavalo, que sentia uma sua parte em perigo, em risco e assim evitava, de forma heroica que a atroz fatalidade se concretizasse, como acontecera no caso do pé de “braúna”, ou quando do boi preto (o pissote) desgarrado da boiada pendeu pros lados da baixa dos calumbi...
Momentos o vaqueiro inteiramente perdido de amores e zelo pela sua outra parte, dedicava integral atenção a cuidar dela como se a certeza fosse evidente que se tornaria mutilado com a falta dela. Daí eu ter ouvido sei lá quantas dezenas de vezes, de forma didática e determinantemente decisiva: “Por falta de um grito, o majestoso cavalo, pisa num buraco, cai, quebra o pescoço e morre...”.
E daí a derrota, a imperfeição, a tristeza, a integral incapacidade de um homem que não pode preservar a sua melhor parte... E isso, ouvi silente e triste, sempre tocado pelo mesmo sentimento, um sem número de vezes de um homem mutilado, morto em sua melhor parte:
“...e ele pisou num buraco do terreno irregular... caiu...ouvir o osso do pescoço se quebrar entre meus braços, que num abraço me protegia como sempre... e entre minhas pernas senti o seu último frêmito de vida... e ali ficamos caídos.. inertes... ele sem dúvida a cavalgar pelas pradarias da imensidão...sendo talvez agora o próprio vento...e eu ali, perdido, derrotado. Destruído...sem a minha CHAVE DO VENTO!...
Flávio Dantas (retalhos de lembrança de seu Totonho)
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