Balanços
crescem muito e diretor da Vale teme 'monstro'
Ninguém tinha dúvida de que
a aplicação das normas internacionais de contabilidade aumentaria o tamanho e o
número de notas explicativas divulgadas em conjunto com os balanços das
empresas. Mas a sensação geral é que se passou da conta. "Tenho receio de
que as demonstrações contábeis se transformem em um monstro que ninguém consiga
ler e entender", afirmou o diretor de controladoria da Vale, Marcus
Severini.
O executivo diz que não é
contra prestar mais informações, mas acredita que nem todas precisam estar nos
balanços, já que muitas se repetem no Formulário de Referência, nos relatórios
anuais das empresas, no site de relações com investidores e nos comunicados à
imprensa.
Severini participou ontem do
1º Encontro de Contabilidade e Auditoria, organizado pela Associação Brasileira
das Companhias Abertas (Abrasca) e pelo Instituto dos Auditores Independentes
do Brasil (Ibracon).
Presentes no mesmo evento,
representantes da academia, analistas de investimento e até mesmo os auditores
concordaram com a avaliação de que os balanços estão maiores do que
precisariam.
O professor Ariovaldo dos
Santos, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP,
cita por exemplo casos em que as notas explicativas detalham todos os 43
pronunciamentos contábeis, além das interpretações e orientações emitidas pelo
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e ratificadas pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). "Que sentido faz isso?", questiona o
professor.
Para ele, as empresas
deveriam procurar ajuda de profissionais da área de comunicação e de letras
para tornar as notas mais sucintas. "Essas pessoas vão conseguir resumir
12 páginas em uma e meia com competência", diz Santos, que avalia que os
balanços, da forma como são divulgados hoje, são desinteressantes.
Reginaldo Ferreira
Alexandre, presidente da regional São Paulo da Associação dos Analistas e
Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-SP), conta que
ouviu de um presidente de companhia aberta uma reclamação sobre o tamanho do seu
próprio relatório. Quando procurou saber o motivo, esse executivo ouviu os
contadores responsabilizando os auditores, que culparam os advogados, que
apontaram novamente os contadores. "Além do aumento do tamanho por conta
das novas demandas da regulamentação, existe também relatório mal feito. Em vez
de escrever uma linha, a empresa gasta três páginas", afirma Alexandre.
"As notas precisam ser mais simples, mais claras e mais objetivas",
acrescenta o presidente da Apimec, lembrando que muitas vezes os analistas têm
poucas horas para ler os balanços e emitir seus relatórios.
Na opinião de Wanderley
Olivetti, sócio de auditoria da Deloitte, as notas explicativas dos balanços
acabaram ficando muito grandes porque as empresas ficaram com receio de serem
acusadas de não querer divulgar determinada informação. Por isso, ele não vê
espaço para redução imediata do tamanho das demonstrações financeiras.
Já o sócio da Ernst &
Young Terco Paul Sutcliffe tem uma visão diferente. "A norma requer a
divulgação, mas é possível fazer de forma mais resumida", afirma. Ele cita
ainda que a nota que faz a descrição das práticas contábeis poderia ser menor,
enquanto aquela que trata das premissas usadas pela administração deveria ser
maior e mais detalhada.
De acordo com Alexandre, da
Apimec-SP, o problema dos balanços grandes não é novo. Ele conta que, ao
participar por vários anos da comissão julgadora de um prêmio que a Abrasca dá
para os melhores relatórios anuais, foi possível observar mudanças. "Eles
foram ficando mais magrinhos. E as empresas que reduziram foram ganhando
destaque", diz.
Em outro ponto relacionado
com a comunicação das companhias abertas com o público, o Comitê de Orientação
para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim) deve discutir, em reunião
marcada para hoje, uma proposta para se acabar com as colunas referentes ao
resultado da "controladora", que hoje sai ao lado dos números
consolidados dos grupos. Também entrará na pauta o rodízio de auditoria e o fim
da necessidade de publicação dos balanços em jornais.
Ibracon
pede transparência na discussão sobre o rodízio
Por
Marina Falcão | De São Paulo
O Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (Ibracon) encaminhou uma carta à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) pedindo que a autarquia torne públicas as críticas que
recebeu durante a audiência sobre o rodízio de firmas de contabilidade nas companhias
abertas.
Praxe do órgão regulador
brasileiro, a análise dos comentários e sugestões no período após o
encerramento da audiência - e antes da emissão da norma - ocorre sob regime
confidencial. Essa prática, no entanto, contrasta com o modelo de transparência
adotado, por exemplo, pela Securities and Exchange Commission (SEC), nos
Estados Unidos.
Segundo Alexsandro Broedel,
diretor da CVM, essa é a primeira vez que a autarquia recebe um pedido de
divulgação das críticas antes da conclusão da análise. "A demanda é
inédita e achamos pertinente. Mas primeiro é preciso resolver as questões
operacionais necessárias para a divulgação do material", diz Broedel.
"Se abrirmos os dados de uma audiência, teremos que abrir de todas",
complementa.
Entre os dias 15 de julho e
15 de agosto, a CVM recolheu sugestões para sua proposta de ampliar de cinco
para dez anos o prazo de rotação de firmas. A contrapartida exigida das
empresas seria a estruturação de um comitê para fiscalizar as atividades dos
auditores.
A iniciativa da CVM
reinaugurou a polêmica discussão sobre o rodízio obrigatório de auditorias. A
exigência, presente hoje em poucos países, como Brasil e Itália, está sendo
avaliada pelos reguladores dos demais países da União Europeia e dos Estados
Unidos.
"O fato de o rodízio
estar sendo discutido lá fora, não significa que será implementado",
aponta Ana Maria Elorrieta, presidente do Ibracon. Para ela, a instalação do
comitê de auditoria deveria ser suficiente para que a empresa não precisasse
mais trocar de firma. "Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços na
fiscalização da CVM e outros autorreguladores", justifica.
Segundo Broedel, a análise
dos comentários deve demorar pelo menos mais um mês. "Algumas pessoas
confundiram. Não estamos discutindo a necessidade do rodízio, e sim a forma do
comitê", diz.
Broedel assume que algumas
questões pontuais sobre o formato do comitê estão sendo revisadas. É o caso,
por exemplo, da necessidade de troca dos seus membros a cada cinco anos e da
tarefa de "avaliar e monitorar" a adequação das transações com partes
relacionadas atribuída a eles na proposta original do órgão. "Mas não
abriremos mão de que o comitê seja previsto no estatuto da empresa", diz.
Empresas
ainda patinam na adoção
Por
Natalia Viri | De São Paulo
Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro
de Executivos de Finanças (Ibef) de Campinas (SP) em parceria com a KPMG e a
Policamp mostra que as empresas ainda estão patinando para se adequar às novas
regras contábeis.
A pesquisa refere-se ao exercício
de 2010, primeiro ano em que a entrega das demonstrações financeiras no padrão
IFRS passou a ser obrigatória. Foram avaliadas 61 empresas de grande porte e 39
empresas de pequeno e médio porte (PMEs) da região - principal polo industrial
e de tecnologia do Estado de São Paulo-, que, juntas, somam ativos de R$ 119
bilhões e geraram um caixa de R$ 12 bilhões em 2010.
Como era de se esperar,
existe um grande vale entre os padrões de divulgação das empresas de grande
porte - com ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual acima
de R$ 300 milhões - e das PMEs. Em 2010, 87% das grandes empresas da amostra divulgaram
suas demonstrações financeiras de forma completa - em 2009, esse porcentual foi
de 81%. Já no universo das PMEs, apenas 59% entregaram todas as peças contábeis
em relação ao exercício do ano passado. É o primeiro ano em que esse tipo de
empresa integra a pesquisa.
A checagem das demonstrações
financeiras por auditores independentes foi observada em 85% das grandes
empresas da amostra em 2010, mesma fatia verificada no ano anterior. O parecer
de auditores registrados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma
exigência para as companhias de capital aberto, instituições financeiras e
empresas de grande porte. Entre as pequenas empresas, para as quais a
obrigatoriedade não se aplica, apenas a metade teve seus balanços auditados.
O número de ressalvas por
parte dos auditores, que ocorrem quando há itens que não atendem às
especificações previstas pelo IFRS, também aumentou, refletindo o fim do
processo de convergência para o novo padrão.
Dentre as grandes empresas
cujas demonstrações foram auditadas, apenas 38% não apresentaram nenhuma
ressalva em 2010, uma redução significativa frente ao exercício anterior (85%).
Os desvios constatados pelos
auditores concentraram-se no cumprimento da resolução que diz respeito aos
ativos imobilizados, que determina que se atendam a critérios como a revisão da
vida útil dos ativos em vez de taxas de depreciação fiscais.
Fonte:
Valor
Publicado no Jornal
Contábil
http://www.jornalcontabil.com.br/v2/Contabilidade-News/1262.html
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