No processo de
ensino/aprendizagem de ciências contábeis, a partir da perspectiva discente,
quase sempre se observa uma intensa ansiedade com a convivência das práticas
contábeis, porém, sempre reivindicando recursos meramente ferramentais, típicos
da formação profissional técnica de auxiliares da contabilidade, preocupados
que se isso não acontecer não estariam preparados para enfrentar o mercado de
trabalho.
Essa premissa advém de
uma relação profissional, onde os contadores são tidos como entes executores de
atividades burocráticas repetitivas menores, como por exemplo, o simples e
fácil atendimento de determinismos legais obrigatórios, no tocante a aspectos
societários/tributários, eliminando ou encobrindo a essência fundamental da existência
da contabilidade desde os seus primórdios há mais de 8.000 anos.
Considerando que
empreendimentos, de quaisquer espécies, complexidades ou tamanho, no decorrer
de sua existência têm como premissa básica, tomar decisões negociais,
econômicas, financeiras, de gestão, etc., necessitando para tanto de
informações e assessorias qualificadas, com vistas a ser bem sucedidos ou pelo
menos errar menos, minimizando os riscos de perdas, prejuízos e insucessos em
geral.
Também é importante considerar
que, a contabilidade, como ciência, área ou ferramenta deve estar qualificada
para oferecer fortes recursos e informações aparelhadas para o auxílio da
melhor decisão para empreendedores de toda espécie. E, para tanto a preocupação
básica do estudante ou profissional da contabilidade, deveria ser acima de tudo,
preparar-se para atender as necessidades dos gestores nas suas mais abrangentes
e complexas exigências, usando para tanto os recursos oriundos do processamento
contábil, a partir de interpretações e estudos críticos qualificados, produzidos
com apoio de pensamentos e conhecimentos de outras áreas, com vistas a fornecer
o melhor, mais abrangente e real, para o desempenho do empreendimento, quanto a
aspectos: econômicos, financeiros, fiscais, tributários, gerenciais,
operacionais, mercadológicos, etc., efetivando-se assim, como o mais próximo e
profícuo parceiro do empreendedor.
Dentro desse contexto, uma das ferramentas
mais eficientes e contributivas é a análise financeira e econômica, baseada em
índices, pois possibilita a comparação dos valores obtidos em determinado
período com aqueles levantados em períodos anteriores e o relacionamento desses
valores com outros afins. Através desse recurso é possível avaliar e emitir
pareceres e diagnósticos sobre diversas questões, como:
- Concessão/captação ou não de créditos;
- Investimento em capital acionário;
- Alteração de determinada política financeira;
- Avaliação se a empresa está sendo bem administrada;
- Identificação de sua capacidade de solvência (risco de falência) etc.
A análise das demonstrações contábeis, conforme ensina
Iudícibus (2008a, p.1), é tão antiga quanto à origem da contabilidade. Assaf
Neto (2010a, p.35) determina que sua finalidade seja “relatar, com base nas
informações contábeis fornecidas pelas empresas a posição econômico-financeira
atual, as causas que determinam a evolução apresentada e as tendências futuras”,
permitindo assim, a geração de informações passadas sobre a posição financeira
de uma organização a fim de realizar projeções futuras.
Uma quantidade considerável de ferramentas já testadas e
aprovadas para uso com eficiência na análise das demonstrações contábeis,
encontram-se à disposição de contadores, administradores, economistas,
analistas financeiros e interessados, que se aplicadas com critério, e, com uma
consistente capacidade de interpretação, podem gerar pareceres e diagnósticos
eficientes, com vistas à produção de informações úteis que auxiliam a tomada de
decisão por gestores em seus diversos fazeres ou decidires acerca da vida
empresarial.
Como exemplos podem ser indicados alguns ferramentais,
como:
1 - Para efeito de avaliação de desempenho empresarial,
pode-se aplicar o Sistema de Análise
Dupont, considerado como um verdadeiro sistema de busca, sendo possível
verificar com um bom grau de eficiência, os seguintes indicadores de desempenhos
da empresa:
- Taxa de Retorno do Investimento Total (Ativo Total) da empresa;
- Taxa de Retorno do Investimento do Acionista (Patrimônio Líquido);
- Margem Líquida de Lucratividade;
- Giro dos Ativos em Relação às Receitas Líquidas da atividade principal da empresa;
- Fator de Alavancagem Financeira, obtido em função da utilização dos capitais de terceiros, em relação às Origens de Recursos totais obtidas pela organização.
Com a utilização de ferramental desse porte, é possível
com amplitude, investigar e identificar quais os elementos patrimoniais ou de
resultado estão influenciando positivamente ou negativamente o desempenho
empresarial, possibilitando decisões coerentes com vistas a serem mais bem
trabalhados os pontos fortes ou fracos da gestão empresarial.
2 - Outro ponto de referencial importância na vida de
qualquer negócio é a administração do seu capital de giro operacional. Elemento
que quase sempre determina a continuidade ou não da existência da organização.
Portanto, uma área funcional muito sensível e de vital importância. Com vistas
a gerenciar esse setor com competência, pode-se utilizar uma ferramenta de Gestão do Capital de Giro Operacional,
baseada no modelo Fleuriet, que a partir da demonstração contábil do Balanço
Patrimonial, especialmente dos Ativos e Passivos Circulantes, pode-se
determinar com precisão, indicadores como:
- Necessidade Líquida de Capital de Giro (NLCG);
- Ciclo Financeiro;
- Análise ou decomposição da NLCG;
- Efeito Tesoura.
E, com esses indicadores apurados e criteriosamente
analisados é possível perceber problemas e caminhos para soluções, com vistas a
uma equilibrada gestão econômico-financeira do capital de giro operacional
ideal dos negócios.
3 - Outras duas questões recorrentes de uma gestão
empresarial comprometida com a qualidade, que podem muito bem ser investigadas,
analisadas e respondidas à luz da utilização de demonstrativos contábeis,
nesses casos, a partir da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), são:
- A gestão da empresa está sendo competente, a ponto de gerar Fluxos de Caixa Operacional suficiente para o equilíbrio financeiro (cobrir todas as obrigações) da atividade operacional (razão da existência do negócio)?
- Os Lucros Finais apurados pela empresa, após considerar 100% dos custos de todos os capitais aplicados no negócio (capitais de terceiros e próprios), estão efetivamente gerando valor para a empresa?
Para atender ou vir como recurso de esclarecimento e
orientação para uma gestão eficiente às questões acima, podem ser utilizadas
com bastante utilidade as seguintes ferramentas:
- Cálculo, apuração e interpretação do EBITDA (Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization) para a questão a.
- Cálculo, apuração e interpretação do EVA (Economic Value Added) para a questão b.
Outras tantas ferramentas, sofisticadas ou mais simples,
podem e devem ser utilizadas com vistas a interpretações e análises das
demonstrações contábeis, com vistas ao suporte da gestão empresarial competente
e comprometida com a eficiência e a eficácia organizacional.
Com isso, quer-se mostrar a imensa vantagem competitiva
que a contabilidade gerencial, minimamente aplicando os recursos inerentes a
Análise Econômico-financeira sobre os relatórios contábeis, pode propiciar ao
gestor empresarial, com vistas a poder tomar decisões negociais mais conscientes,
consistentes e com riscos minimizados.
Autor:
Professor Flávio Dantas
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