sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ÚLTIMA POSTAGEM DE 2011

Ano que termina e eu querendo inovar. Ou seja, querendo concluir esse ano trazendo uma postagem diferente daquilo que de alguma forma fiz durante quase todo o ano. Em vez de matérias sisudas, densas, inerentes a área de negócios (contabilidade, economia, administração, etc.), sugiro a todos a leitura de um texto maravilhoso sobre o trabalho de Amy Winehouse, especialmente sobre o CD póstumo lançado recentemente ("Lioness"). No meu caso, tenho uma admiração especial sobre o trabalho dessa menina, precocemente "morta". Isso. Morta entre aspas, pois entendo que gênios tipo a Amy, jamais morrerão. Estaremos hoje e sempre por aqui a lembrarmos e nos deliciarmos com a maravilha da sua obra...
Minha postagem é um comentário sobre o "Lioness", publicado no BLOG REBUCETE, feito por meu filho, Lucas Oliveira Dantas (estudante de Comunicação na UESB), que me emocionou duplamente: Pela qualidade do texto, imensamente bem construído, onde ficam caracterizados aspectos claros de competência e emoção, sem pender para o passional barato; assim como, pela intensa satisfação em saber mais um pouco sobre o trabalho espetacular de genialidade dessa inglesinha fantástica.
Agora, sugiro apenas que curtam o texto de Lucas:


“Lioness” – Maravilhosa Amy

Por Lucas Oliveira Dantas

Da tragédia anunciada, à degradação crônica e, finalmente, à redenção musical. Como o álbum póstumo de Amy Winehouse é uma verdadeira honra àquilo que sempre deveria ter sido noticiado e celebrado: seu talento.

A morte de Amy Winehouse, em 23 de julho desse ano, veio repentina, ao passo que sem surpresas. Talvez uma das tragédias midiáticas mais perturbadoras, desde que cruzou oceanos com o single “Rehab”, em 2006 – que falava de sua relação íntima e conturbada com a depressão, bebida e drogas –, sua morte fora prevista e anunciada tantas vezes que o público em geral mal pôde evitar a confusão.

Parte do apelo de Winehouse se dava pelo humor e carisma com os quais ela tratava seus vícios, tanto que eles foram escrutinizados e massificados não apenas pela imprensa abutre, mas também pela indústria e seus próprios fãs. Por mais que se reconhecesse o imenso talento da britânica de voz rasgada e melancólica, não era raro se deparar com o dilema: “gostamos tanto de Amy por sua arte ou por seu jeito assumidamente alcoólico de ser?”

Eis que, obviamente, a controvérsia superou o que realmente importava, a música, e Amy Winehouse teve sua própria criação engolindo-a lenta e gradativamente: de promissora Diva Soul para “zumbi da reabilitação”. Não se noticiavam seus shows ou aparições, a não ser que estivesse tropeçando bêbada e/ou chapada por alguma droga. Algumas vezes era tão difícil de acreditar que alguém pudesse estar tão perdido diante de nossos olhos que cogitávamos a possibilidade da encenação, afinal, o Pop nos ensinou na segunda metade do século XX que é preciso nos chocar para que consumamos. Então, escolhemos o conforto da incredulidade, ao invés da indignação diante da degradação humana assistida, televisada, impressa e comercializada.

Se você não acredita em algo, você se sente livre da responsabilidade de compreendê-lo e, como somos regidos pela inércia, continuamos a assistir Winehouse se deteriorar, enquanto comprávamos seus álbuns, seus singles e, principalmente, ingressos para seus shows, afinal, a coitada pode morrer a qualquer momento e, por isso, é melhor assisti-la caindo pelas tabelas e estragando as notas das próprias canções, do que não vê-la nunca mais.

Enquanto alguns se embolavam no circo midiático, esperando o próximo vídeo de crack vazar na internet, outros se recolheram à espera daquilo que sempre importou: sua música. De “Back To Black”, seu segundo álbum lançado em 2006, para cá foram várias especulações, inclusive o esperado álbum de reggae; depois de períodos dentro-e-fora de clínicas de reabilitação, algumas performances meeiras (inclusive as no Brasil no primeiro semestre), estávamos sossegados com a ideia de que, talvez, Winehouse tivesse jeito e fosse viver longos anos conosco.

Tesouros Secretos
 
É exatamente por este motivo que “Lioness: Hidden Treasures”, seu álbum póstumo lançado no dia 2 deste mês, tem um interrupto sabor agridoce. Nunca fora necessário esforço (nem grande entendimento de inglês) para perceber que o humor contido nas canções de Amy encobriam espessas camadas de melancolia e certa dor. Se é válida a máxima sobre sorrir demais ser sinal de desespero, os mais sensíveis nunca deixaram de perguntar as razões pelas quais Amy sorria tanto. Talvez fosse por ser muito inglesa – ainda assim, que tipo de dor ela anestesiava com sorrisos, vodca e drogas?

Obviamente, “Lioness” não provê resposta alguma, pelo contrário, o álbum ratifica o mistério sobre a depressão e a subsequente falência de Winehouse. Produzido por Salaam Remi e Mark Ronson – principais produtores de “Frank” (2003) e “Back To Black” (2006), respectivamente – este não é de jeito algum o sucessor do maravilhoso álbum de 2006; uma compilação de gravações feitas antes do lançamento de seu debut, “Lioness” é uma genuína pérola pra quem sempre fora admirador da cantora Amy Winehouse.

Pela idade de suas faixas, o álbum não trás nenhuma inovação à sonoridade de Winehouse; sendo assim, é sempre possível pensar numa faixa equivalente: “Our Day Will Come” tem a pegada Ska de “Me And Mr. Jones” e “Just Friends”; “Between The Cheats” possui aquela sonoridade 1950’s bem explorada em todo o “Back To Black”. O que faz do “Lioness” um álbum emocionalmente poderoso é a sensação que Winehouse está despida e exposta em cada faixa. Talvez seja porque elas remetem ao fato de que não a temos mais presente – e se for este o único motivo, perdoem o emotivo crítico/fã – mas, quando nos deparamos com a lentidão e melancolia das versões originais de “Tears Dry On Their Own” e “Wake Up Alone” é difícil não se emocionar por tudo aquilo que Winehouse fora (é, pode ser uma questão de nostalgia). Sua versão para a clássica de Carole King, “Will You Still Love Me Tomorrow”, com suas cordas intermitentes e metais cinematográficos, é a dose perfeita de melodrama que alguém pode desejar; o dueto com Tony Bennett é sóbrio, mas não deve em emoção ao resto do álbum e a última faixa, “A Song For You” é uma esmagadora canção de adeus.

Claro que há momentos leves e humorosos como sua versão da nossa “A Garota de Ipanema”, a já conhecida gravação “Valerie” e a ultra sarcástica “Best Friends, Right?”; contudo, os tesouros secretos de “Lioness: Hidden Treasures” evidenciam a grande incógnita que era a persona de Winehouse: um gênio atormentado por demônios que nunca foram, nem serão, revelados, mas que eram generosamente exorcizados para nós em suas maravilhosas composições; um produto da nossa errática geração, incapaz de compreender a própria humanidade e, portanto, adormecendo-se.

Isso aqui é mais que uma mera crítica ao álbum. É a honesta e emocionada carta de amor e despedida de um admirador que tentou, desde o princípio, compreender a mulher por detrás do gênio; mas que, no fim, aceita de peito aberto aquilo que sempre fora disposto a nos dar: o talento da Maravilhosa Amy Winehouse.

Publicado originalmente no blog: REBUCETE




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