Continuando com a declinação
de péssimos hábitos que possuo, e que são normalmente dirigidos ao massacre dos
meus “pobres” alunos, tem um que costumo ser enfático, quando acho que devo fazê-los
perceber sobre a necessidade de pensar os contadores como seres capazes de
explicar os efeitos patrimoniais, a partir de conceitos / saberes vinculado a
outras áreas do conhecimento, como:
- Economia;
- Finanças;
- Estatística;
- Psicologia;
- Gestão, etc.
E nesse sentido,
interrogo-os quanto tem do trabalho direto do contador nos elementos plenamente
operacionais das atividades das organizações (comprar, produzir, vender, etc.).
De um modo geral, sempre me respondem com um “nada”. O que é uma pena,
se pensarmos a contabilidade, como área do saber, produzida e dirigida para o
auxílio na tomada de decisão, dos seus usuários externos e internos aos negócios.
- Então, como “nada”?
- A Contabilidade, não é a ciência que tem como objeto, o PATRIMÔNIO das organizações?
- Ela não demonstra, explica e informa sobre a estrutura e funcionalidade / dinâmica desses PATRIMÔNIOS?
- Mas como explicá-las sem o conhecimento de como foram construídos, avaliados, processados, geridos esses PATRIMÔNIOS e os ambientes em que ocorreram essas mutações?
Ou seja, nada se explica,
nem se sugerem alternativas de continuidades operacionais / administrativas dos
PATRIMÔNIOS, sem que relevantes “valores” e/ou conhecimentos sejam apropriados de outras áreas.
E vejam, isso já é muito
para a reflexão desses pobres discentes, que na verdade nem imaginam como serão
a organização e funcionalidade das organizações que eles irão trabalhar.
Pois bem. É sobre essa
questão, que aproveito e sugiro a leitura da entrevista feita pela revista Administradores.com.br com César Sousa CEO da Empreenda Consultoria e
considerado um dos 200 Global Leaders of Tomorrow pela World Economic Forum -
Suíça.
Vejam a seguir:
Como
serão as empresas e a nossa carreira no futuro?
Em
entrevista, César Sousa, um dos principais experts brasileiros em estratégia
empresarial, relata que os modelos de gestão tradicionais precisam ser
sepultados e profissionais precisam promover uma nova postura em suas carreiras
Esqueça o pensamento dos
tradicionais "gurus" do século XIX e seus modelos de gestão. A
sociedade, os profissionais e a forma de se fazer negócios mudaram drasticamente.
A tese acima é defendida
pelo consultor César Sousa, CEO da
Empreenda Consultoria e considerado um dos 200 Global Leaders of Tomorrow pela
World Economic Forum - Suíça. Para o especialista, que lançou recentemente o
livro "A Neo Empresa", o cenário atual exige urgentemente que se abandonem
os princípios da Era Industrial, utilizado por muitas empresas até hoje.
César declara que entramos
em uma nova fase em que novos valores e necessidades são mais desejados pelos
consumidores e profissionais. O Administradores.com conversou com o consultor
que apontou algumas formas para se ter sucesso nos negócios e em nossa carreira
nesse nova era do management. Confira!
César,
o título do seu livro é "NeoEmpresa" e a minha primeira pergunta é
justamente sobre isso. O que as novas empresas possuem de diferentes das
antigas empresas?
Muitas características da
NeoEmpresa são bem diferentes das empresas tradicionais. A NeoEmpresa é uma
entidade Multicentrada, que gravita em torno de clientes, pessoas, acionistas,
parceiros, investidores, comunidades e demais partes interessadas. Podemos
pontuar alguns pontos dessas novas empresas:
- Constrói um "Mapa de Geração de Valor" decorrente do Significado percebido pelas entidades que fazem parte do seu modelo de negócios. Isso conduz a resultados surpreendentes que vão muito além do "mero" valor econômico.
- Luta pelo Progresso dos seus Clientes, em vez de apenas buscar o seu próprio progresso. Coloca o cliente no centro do seu organograma, ciente de que o seu sucesso depende do sucesso dos seus clientes, distribuidores e parceiros.
- Customiza a Gestão das Pessoas, em vez de apenas "Gerenciar Cargos". Respeita a individualidade de cada um, oferecendo uma razão inspiradora para suas vidas.
- Valoriza o Intangível e não apenas o Tangível. Diferencia-se dos concorrentes por não se limitar à gestão eficiente de capital, equipamentos, estoques, tecnologia e instalações.
Além de incorporar a
Sustentabilidade ao seu Modelo de Negócios, colocar a Tecnologia a serviço do
Ser Humano e estrutura-se de forma horizontal, direta e flexível.
Essas
diferenças aconteceram pelas mudanças de visão e comportamento dos consumidores
e das próprias pessoas que fazem as empresas?
Essas diferenças são
decorrentes do mundo em reconfiguração em que vivemos. E pelos sintomas atuais
que percebemos na maioria das empresas, com estratégias bem arquitetadas que
mal conseguem sair do papel e não funcionam quando começam a ser implementadas.
Então, nota-se que essas empresas podem possuir até sete elementos
problemáticos.
- Clientes insatisfeitos com a baixa qualidade do atendimento na hora da verdade, quando usam produtos e serviços que deveriam solucionar suas necessidades;
- Pessoas infelizes por não conseguirem desenvolver seu potencial nas empresas e pela falta de significado do dia a dia do trabalho nas suas vidas;
- Parceiros e sócios desconfiados, negociando na base dos medos e receios;
- Acionistas apreensivos pelos riscos que não conseguem antever nem controlar;
- Comunidades que não aceitam mais, de forma passiva, o impacto das empresas no seu cotidiano;
- Empresas engessadas com modelos de governança que não se adaptam aos jovens talentos inquietos que fazem parte da chamada "Geração Y";
- Empresas que insistem nos tradicionais planos de carreira, na surrada ideia da escada com vários degraus até o topo, enquanto as pessoas têm pressa, preferem subir mais rápido ou caem fora, movendo-se numa velocidade proporcional ao seu talento.
Você
acredita que os princípios de gestão e da Administração adotados ao longo de
décadas por várias organizações e escolas de negócios estão ficando engessados
para essa nova era corporativa que surge?
Sem nenhuma duvida. Os
princípios de gestão tradicionais não mais respondem às novas necessidades das
empresas nem das pessoas. Estamos formando lideres para uma realidade que já
não existe mais. E estamos dirigindo nossas empresas com olho no espelho
retrovisor. Ainda somos prisioneiros dos princípios da Era Industrial com
ideias criadas no século XIX, publicadas no século XX. E olhe que já estamos na
terceira década do Sec. XXI.
O
que não funciona mais, por exemplo?
Uma serie de ideias mortas
que precisamos sepultar. Exemplos:
- "espremendo fornecedor é que se aumenta o lucro da empresa";
- "o segredo é a alma do negócio", coisas assim.
Lembro-me do tempo que muita
gente acreditava que "lugar de mulher é na cozinha?"
são coisas assim que temos de nos livrar, de ideias obsoletas que ainda povoam
a cabeça de executivos nas empresas.
Muito
se fala de sustentabilidade e "economia
verde". Inclusive, tivemos aqui no Brasil uma conferência de
proporções mundiais - a Rio+20. O pensamento nessas causas, em sua opinião,
está deixando de ser uma tendência corporativa para se transformar em uma
realidade empresarial absoluta? Você acha que as empresas que não tiverem
inclinadas a responsabilidade social/ambiental estão fadadas a extinção?
As empresas precisam incluir
a sustentabilidade social e a ambiental nos seus modelos de negócios, em vez de
apenas ficarem jogando pra plateia. Não é apenas plantando árvores, reciclando
lixo ou um projeto social aqui ou outro ali que vamos resolver a questão da
sustentabilidade. Aliás, falta a variável mais importante no famoso "triple
bottom line" – econômico-financeira,
social e ambiental. A verdade é que não se trata de um triângulo, mas no
mínimo de um quadrilátero: falta a liderança. Acredito que as empresas que não
desenvolverem líderes em todos os níveis, essas sim, estarão condenadas a
extinção.
Mas
em relação à postura desses líderes da NeoEmpresa. O que devemos esperar deles?
Posturas e atitudes
completamente diferentes dos líderes tradicionais. Os NeoLíderes serão aqueles
que:
- Constroem causas em vez de apenas oferecer empregos;
- Formam outros lideres, em vez de seguidores;
- Fazem mais do que o combinado, em vez de apenas bater metas;
- Inspiram pelos valores, em vez de pela hierarquia ou pelo carisma;
- Lideram 360 graus, em vez de apenas dentro das paredes da empresa.
E
entre os profissionais em geral? Quais são os caminhos para eles se destacarem
em suas carreiras?
Desenvolverem o que chamo de
competências intangíveis. Chega de competências tangíveis, de tecnicismo, de
ferramentas e de instrumentos, isso tudo é obrigação. Os profissionais
competentes que conheço se destacam pelo intangível:
- confiança,
- comunicabilidade,
- capacidade de integração,
- relacionamento,
- networking,
- reputação,
- coerência,
- determinação,
- perseverança, e
- muita disciplina.
Além,
obvio da inovação.
Eles são inovadores, ousados, mas disciplinados.
A Era do
Management nos ajudou a chegar até este ponto. Agora precisamos dar o próximo
passo:
Repensar e enriquecer alguns dos seus princípios, vislumbrando as
características da empresa moderna do século XXI,
A NeoEmpresa.
Publicado originalmente em:
Administradores.com.br - 29 de junho de 2012,
às 17h53min
Prof. Flávio Dantas,
ResponderExcluirDe fato o texto é bem instigante e provocativo! Traz à tona uma série de questões profissionais e de gestão para nossa reflexão.
Também acredito que a tão sonhada "MUDANÇA" do nosso estilo arcaico de fazer as empresas funcionarem, será fruto de metamorfoses impulsionadas pelo ambiente, pessoas, mercado, empresas e tecnologia.
Precisamos apoiar nossa conduta profissional na reciprocidade teoria/prática e entender que outros ingredientes como inovação, capacidade de expressar conhecimentos em ação, relacionamento com pessoas e constante aprimoramento intelectual, deverão ser inseridos para termos um espaço significativo nesse novo ambiente que bate à nossa porta.
Ficar parado, "nada" comentar, não se posicionar diante dos fatos, deixar de utilizar a tecnologia a favor do bem e não apreender mais conhecimentos, no mínimo, nos coloca à margem do mercado e beira do precipício da mediocridade.
Parabéns pelos conhecimentos partilhados no Blog.
Geraldo Junior;
ExcluirAgradeço pelos bons e acertados comentários.
Com certeza, sua passagem por aqui qualifica e personaliza esse meu pequeno meio de contato com o mundo virtual/real.
Solicito, que se achares procedente divulgue esse blog, ao tempo que o coloco à sua disposição para postagens de assuntos do seu interesse...
Abraços;
Dileto amigo,
ResponderExcluirGrato pela presteza nos retornos dos comentários. Isso demonstra atenção e respeito pelas apreciações dos seus leitores. Já tenho divulgado teu blog entre a minha rede de contatos profissionais e pessoais pois o conteúdo contábil, tão bem elaborado por você, serve de muita reflexão para nós Administradores.
Com a oportunidade de partilhar debates, gostaria que tecesse algumas reflexões sobre a polítcia governamental de fomento ao empreendedorismo, principalmente no que tange o Empreendedor Individual. É fato que o perfil dos nossos empreendedores ainda está pautado no "empreendedorismo por necessidade", muito embora temos exceções. Contudo, tenho percebido ao longo dos trabalhos de consultoria para essas modalidades jurídicas, que alguns empresários utilizam esse "apoio" do governo (não emitir nota fiscal, dispensa de escrituração contábil, condições especiais previdenciárias e trabalhistas etc.) mas EMPRESARIALMENTE ainda não estão preparados para assumir juridicamente seus negócios (planejamento, controle, gestão básica).
Temo que em um futuro próximo, teremos, ao contrário de anos anteriores, pequenos negócios formalizados com dificuldades de gestão empresarial e "viciados" em um crescimento "medido" por faixas de faturamento para não desgarrar do subsídio governamental. Sabe aquela história: eu omito meu crescimento para continuar com meu benefício??? Como nós podemos nos posicionar diante desse cenário? Quais as perspectivas contábeis e administrativas para essa situação que se instala no nosso ambiente de negócios?
Continue com suas postagens ok! Sucessos e forte abraço!